Herbert Hette



Redes Sociais x Massa Cinzenta
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Nunca as pessoas se falaram tanto quanto nesse momento. Isso é fato. É outra revolução na comunicação da humanidade e tem seu preço. As redes sociais colocaram tudo mundo ligado 24 horas em todo mundo. A febre tornou-se tão avassaladora que zumbis começaram a aparecer nas macas dos hospitais atropelados na faixa de pedestre ao atravessá-las olhando as telinhas hipnotizados pelas fabulosas montanhas de mensagens da mágica conexão com o mundo todo.

 

Sinceridade? Eu não aguento acompanhar esses grupos postando 300, 600 mensagens por dia. Geralmente papo furado, brincadeiras agressivas raciais, religiosas, sexistas, etílicas e estéticas. Sem falar nas brigas com relances de vias de fato quando no trato de futebol ou política. Não se faz uma filtragem dos membros, a priori. Todo mundo recebe tudo e que se danem as diferenças intelectuais e ideológicas. Todos entram no balaio como reles receptáculos de asneiras, difamações e bestialidades. É o meio perfeito de incubação para os haters - aqueles que odeiam tudo. Falam mal de tudo, zombam e xingam qualquer coisa, são racistas, homofóbicos, misóginos, fanáticos religiosos, moralistas, e acima de tudo arrogantes, pois sabem tudo, entendem de tudo e têm razão em tudo.

O que mais me espanta é que publicações pornôs são normais em uns grupos, enquanto o assunto política e futebol são proibidos nos mesmos, e vice-versa.

É comum, e mais comum, a proibição de pornôs nesses grupos cheios de ‘kkkkk’ para agressões de ‘brincadeirinhas’, tipo aquelas e essas, ‘vc é feio d+’ ‘piranha branquela’ ‘Pepa, se enxerga’ ‘tnc macaco’ ‘princesa Isabel é que é a culpada’ e tome ‘kkkkkk’.

 

A 1ª revolução na comunicação de massa e entre pessoas foi com o teatro de trovadores, segréis, jogralesas, menestréis e bufões; a 2ª foi séculos e séculos depois com a invenção de Johannes Gensfleish, que atende também pelo nome de ‘A Prensa de Gutenberg’, lá nos perigosos e obscuros 1450. Ele aproveitava o papel inventado pelos chineses há milhares de anos. Mas, nesse caso chinês, não houve uma revolução de fato, porque a escrita e o papel eram monopólio da elite. Coisa que a Prensa de Gutenberg, aos poucos, detonou.

Mas a revolução real só viria séculos depois com a comunicação interpessoal, independente de distância, pelo telégrafo em 1836, criação do americano Samuel Morse. Assim alguém lá na Cochinchina podia mandar um recado à família em qualquer calcanhar do judas que chegaria em incríveis dois ou três dias. E se estivessem no mesmo país poderiam receber o recado em horas, coisa inimaginável até então!

       

Aí veio o telefone em 1849 com o italiano Antonio Meucci, mas só entraria no dia a dia das pessoas quase 30 anos depois com os aparelhos e protocolos criados pelo escocês Graham Bell. Depois disso, chegou o rádio, não como veiculo de divulgação, mas como intercomunicador pessoal. O telefone e o rádio somavam essas invenções anteriores e outras como a pilha, e no caso do rádio, as ondas da transmissão sem fio, invenção também, já naquele dias, quase secular do austríaco/americano Tesla, usada e patenteada espertamente pelo italiano Marconi, considerado em nossos dias como o ‘inventor’ do rádio.

 

Depois disso vieram os cinejornais, a TV, o computador pessoal e agora a internet com seus anjos e demônios.

O telefone celular, como o concebemos hoje, é também a fusão de várias invenções anteriores, entre outras, o aproveitamento das ondas sem fio de Tesla, mais os conceitos de Graham Bell, as baterias do italiano Alessandro Volta criadas 80 anos antes que fizessem trabalhar a invenção de Antonio Meucci. Mais o pc e a www.

Aí sim, aconteceu a mágica. O celular, junto com a internet, revolucionaram as relações humanas como nada antes nesses milhares de anos de evolução desde os tempos imemoriais, e mais os últimos quinhentos anos, digamos modernos, de luta e queima de massa cinzenta para chegarmos aos kkkkk que temos hoje... é vergonhoso? hammm... nem tudo.

 

É possível achar o lado bom nesse mar de besteirol. Os parabéns intermináveis aos ‘nívers’ do dia, os afagos às vitórias pessoais da vida, as rezas e palavras reconfortantes a entes queridos; a marcação de encontros, as decisões de trabalho, etc. Tem também, nesse lado bom, os grupos de famílias, os profissionais e os grupos de ajuda, em sua maioria, legais, porém alguns acabam se estragando ao misturarem crendices ou organizações religiosas, fabricantes de remédios, cartomantes, adivinhos, curandeiros, feiticeiros, meretrizes, cafetões, etc, etc... Ou seja, ágar irresistível para a proliferação de haters e armadilhas para os ‘menos avisados’.

 

Alguém me disse que, às vezes, tinha a impressão que a humanidade produzia 100 milhões de idiotas para cada inteligente, e um gênio a cada 500 milhões de otários. A impressão que ele diz ter agora é que esses dois lotes abocanharam de assalto as redes sociais. Não sei como ele chegou a esses números tão absolutos, mas só assim consigo uma explicação para o porquê de um telefone celular custar o mesmo valor de um curso técnico de um ano inteiro, ou o preço de uma boa viagem...

Disse-me ainda, “um absurdo que a empregada doméstica de uma amiga permita que sua filha adolescente, com os estudos atrasados e cheia de namoradinhos, todos, inclusive ela, sem trabalho fixo, comprasse um modelo de celular por 1600 dólares pagando em loooonnngass prestações”.

 

Bem, posso ser eu também esse otário. É uma sensação que sinto toda vez que pago algum imposto aqui no Brasil ou fico sozinho parado no sinal vermelho enquanto todos passam lotados.

Seria coincidência? Sinto o mesmo dentro desses grupos de mensagens instantâneas. Me espanto a toda hora com as ofensas entre ‘pretensos’ amigos e a cumplicidade do grupo. Logo em seguida vem um Salmo, uma imagem de santo ou coisa parecida, e às vezes da mesma pessoa que num outro grupo acabou de mandar um pornô, e tome + ‘kkkkk’.

Isso quando não no ‘privado’ o mesmo cara lhe manda imagens de mulher pelada e em seguida posta rezas e foto de santo  kkkkk  - esses kkkk agora foram meus.

 

Os grupos de família são os piores em termos de futilidades e hipocrisias. Na sua maioria nada de brigas, nada de assuntos sérios, só religião, felicitações, agendamento de churrascos, comidas e festas. Avisos de blitz aqui e ali aos montes, alagamentos, tragédias e lamentações por mortos e enfermos. E ainda a consolidação das panelinhas entre irmãos, tios, primos, etc. O pau só quebra mesmo quando estão juntos fisicamente e no mundo real.

O mais incrível é que a ameaça mais constante é justamente a expulsão do grupo. Todo grupo ameaça um ou outro membro de expulsão como se fosse a coisa mais essencial da vida ser membro de grupo. Adolescentes e até marmanjos se sentem jogados no lixo ao serem excluídos de um grupo ou bloqueados por alguém. Fazem escândalos, batem a cabeça nas paredes, querem vingança e até adoecem.

 

No entanto, grupos e listas de amigos de aplicativos são como na vida real, vamos filtrando, peneirando o que se adéqua ou não em nosso contexto de vida. Saímos de uns, entramos em outros e assim vamos caminhando, selecionando e sendo selecionados. Simples assim.

Mas, ainda assim, a Vida Virtual é uma coisa e a Vida Real é outra bem diferente.


Na rede expomos nossas opiniões, nossas paixões, desejos, sonhos, receios e vaidades a pessoas que, de modo geral, nos levam a um velho dilema: são pessoas que nunca vamos às casas delas e nem as convidamos para as nossas; pessoas que jamais seríamos amigos de verdade; gente, que se encontrássemos na rua, mal, mal nós a cumprimentaríamos, e menos ainda falaríamos de coisas pessoais e pensamentos mais particulares. Tem perigo nisso? acho que sim, mas quer saber? meu mais sincero 'foda-se'.

Foi por essas e outras que se criou a saída pela tangente na postagem de ideias que sabemos que não serão digeridas por alguns chatos: ‘pronto, falei!’


Existem aqueles que fora das redes são pessoas amáveis, educadas, boas de conviver, mas quando logadas viram monstros cuspindo ácidos, ironias e desaforos. Por outro lado, tem uns que se comportam nas redes como se o mundo estivesse atento a cada minúcia de suas vidas e aparências. O mundo deles é perfeito. O maridão ou a esposa é maravilhosa, os filhos exemplares. Os pais a toda hora são lembrados, falecidos ou não. Usam gramática perfeita, fotos escolhidas a dedo em condições de luxo e beleza. Postam frases belas, politicamente corretas e quando admoestados numa brincadeira se sentem ofendidos de morte. Mas nem aí perdem a compostura. Apenas se silenciam ou colocam um carinha de desaprovação.

 

Eu já perdi a conta de quantos grupos já fui expulso  kkkk  Provocar a sua expulsão é uma boa forma, mas não definitiva, de se livrar desses grupos chicletes cheios de gente e pouca massa cinzenta. Os aplicativos de mensagens instantâneas já bloqueiam a possibilidade de você sair de mansinho sem ninguém perceber, ou de bloquear o contínuo recebimento das mensagens sem ter que deixar o grupo. O ideal seria sair de fininho como se escapa de uma festa sem ser notado, evitando os desconfortáveis ‘não vai não’ ‘tá cedo’ ‘mais já?’ ‘porque a pressa?’ ‘saindo à lá francesa, né?’ ‘manda lembrança pra fulano!’ Ou seja, um saco!

Mas tem aqueles, que certos de praticarem uma boa ação, te voltam para o grupo. (sic!) Não! Pelo amor de Deus! Se me tirarem de um grupo ou eu sair, por favor, não me voltem!!

 

Tem os grupos só de papo-cabeça, mas vai elogiar o presidente atual ou falar mal do ex-presidente presidiário  kkkk  O pau quebra! é pior que postar uma piada pornô num grupo de família ou mandar um vídeo safado pra algum moralista religioso  kkkk  Neguinho acaba com as amizades, ‘as migas’ param de se convidarem para festinhas e encontros em teatros e cinemas, outros saem do grupo. Dois consensos: a maioria que sai, se arrepende, faz tudo para voltar e, são aceitos, até aprontarem de novo. O outro consenso é que Gilmar Mendes é bandido em qualquer grupo de não bandidos  kkkk

Num grupo que fui expulso, Bolsonaro é homofóbico e misógino; num outro, que também fui expulso, Moro não é imparcial e está a serviço de Aécio e FHC, e em outro que demorei a me livrar, os Bolsonaros são inocentes de qualquer crime já imputado ou que venham a ser imputados  kkkk

 

De qualquer modo fica combinado assim, eu nunca vou te adicionar sem perguntar primeiro se tu queres, e tu, por caridade, faça o mesmo para qualquer pessoa e nunca, mas nunca mesmo traga alguém de volta a um grupo onde já demonstrou que não cabe ou não quer ficar. E também nunca desbloqueie ninguém, jamais! e também nunca implore para voltar. Tenha dignidade. Bloqueie e recuse contatos sem dó, seja quem for. Ligue o ‘foda-se’. Faça isso, até encontrar a tua turma, ta combinado?

 

Contudo, tirando essas bobagens e tentando falar sério, é ótimo que as pessoas conversem mais! É fabuloso estar em contato e acesso direto em qualquer momento com as pessoas que a gente gosta, com os parceiros do trabalho, colegas na escola, clientes, família. É um milagre possibilitar que as pessoas desse mundão possam conversar e se entenderem mesmo que levem algum tempo para se ajustarem à novidade; que ditaduras e estúpidos tentem de tudo para impedir esse intercâmbio, e mesmo que leve a dissabores e confrontos hoje, o futuro é promissor. A lógica é: conversando a gente se entende.

 

Nota 10 para as máquinas tradutoras universais, nota 10 para os gênios que se dedicam a isso. Nota 10 para todos cujo ofício é fazer as pessoas se entenderem diretamente entre si, independentes de uma imprensa com mil interesses, ou mídias oficiais reproduzindo o que um bando de idólatras, burocratas ou militares decidiram.

É fantástica essa possibilidade inédita na história humana da comunicação global entre as pessoas, que começou há 30, 40 mil anos quando um cara imprimiu a palma da mão na pedra de uma caverna. É saudável e divertido poder dar sua opinião sobre todos os assuntos e ouvir a opinião de qualquer um, celebridade ou não, gente importante ou não, expert ou não. Não interessa. Fundamental e revolucionário é todos terem o poder de postar e falar sobre tudo e serem vistos e ouvidos. Transcendental é ouvir e saber respeitar a opinião alheia. É poder mudar de ideia quantas vezes der na telha. Transcendente é desfrutar do direito e do dever de transmitir a própria opinião seja qual for e quantas forem.


Esse é o grande lance das redes sociais, que sejam bem vindas para sempre!


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