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O Equilibrista e o Autor
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Apresentando meus livros
numa escola, me perguntaram:
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Quem mais compra seus livros? respondi sem muita certeza, pois nunca havia
pensado nisso dessa forma, acho que são as pessoas que visitam o site, e de
mão em mão. Fiquei feliz com as vendas em minha cidade também.
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— Ué! pensei que você ia dizer que são os amigos... se bem que na sua cidade
quem compra são os amigos, num é? as pessoas que te conhecem ou já ouviram
falar.
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Correto. Mas, pensando bem agora sobre isso, deixe colocar em graus de
dificuldade, então:
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Amigos que gostam de livros e têm alguma ligação com a literatura vão e compram.
Nem pensam, nem procuram saber se o livro é ruim ou se é coisa que valha a pena rsrs
Eu só fico sabendo que compraram quando cobram o autógrafo ou fazem comentários
pertinentes. Isso me enche de
alegria e gratidão. E por serem pessoas que gostam de ler, fico sempre na expectativa
das críticas, das opiniões.
Ex-affairs também compram, mas só para espionar se falei alguma coisa delas kkkkk
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Agora, os que não compram mesmo são os artistas e gente da área
técnica artística;
jornalistas, críticos de artes, outros escritores, blogueiros, colegas de trabalho, vizinhos,
parentes, amigos de oi oi, etc,
etc... alguns até fingem que não 'sabiam'.
Todos se sentem no direito de ganhar um exemplar e autografado. E o pior é que
não leem. Colocam os livros nas estantes e ficam lá. A maioria não lê e morre de medo de
encontrar com o autor e ele fazer a famosa pergunta 'E aí? Gostou?' então,
aparece as
respostas mais hilárias, 'É... interessante' rsrsr E como toda
história tem um drama e um personagem forte, você ainda é obrigado a escutar: 'Muito tenso' 'E
Aquele personagem heim? como é mesmo o nome? é muito expressivo. Adorei' kkkk
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Como você lida com esse lance de 'dar livros'?
Em geral eu não dou, eu convido as pessoas a adquirirem e comentarem comigo a
respeito 'se gostaram ou não'. Acho que o problema aqui é ler o livro, e não
simplesmente vendê-lo ou sair distribuindo livros, até seria legal dar livros
adoidado se não fossem tão caros rsrs Se uma pessoa quer realmente ler aquele livro, ela arruma
um jeito de consegui-lo mesmo que tenha que comprar rsrs |
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Bom, depois dessa conversa, pensei mais sobre o assunto. Na verdade, na cultura
brasileira não é popular o hábito da leitura de livros para o simples lazer.
E aquela coisa do establishment já introjetado no povo de que se você não aparece
na grande mídia você não é grande coisa, e
há também o problema de custos. Um livro é caro para se comprar e caro para se
produzir.
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E mais recente a tese de que para esse tipo de prazer, para essa coisa de viajar
dentro da própria mente e obter satisfação com isso, não é um dom comum. Não é todo
mundo que sente prazer com a leitura de um texto longo. Não ter preguiça de ler é
mais um dom do que um hábito.
Não é todo indivíduo que tem ou consegue desenvolver esse talento ou tenha
interesse em desenvolvê-lo. Uma atividade que exige calma para ficar quieto por
muito tempo, usando só a imaginação e conhecimentos anteriores para recriar todo
o cenário das histórias na cabeça, os personagens, os objetos, penetrando no
âmago das psiques tomadas ali, a paciência para esperar pelo desenrolar da trama
domando a anciedade e a curiosidade; e é preciso também um conhecimento relativo do idioma,
etc.
Na verdade, os 'analfabetos funcionais', aqueles que leem, mas não estendem o
que estão lendo, não são analfabetos. Eles não dominam é o idioma, sabem ler,
juntar as sílabas, conhecem os sons das palavras, mas aquelas palavras que saem
do seu uso comum, desconhecem o sentido, o significado semântico. Então não
entendem o texto, e por isso, evitam ler...
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Ler um livro requer uma série de habilidades que infelizmente nem todos atingem
ou veem necessidade de atingir. Dessa forma, como cobrar de qualquer pessoa a leitura de
um livro seu, se essa experiência pode ser um grande desconforto para ela?
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Seja como for, são dignos de louros todos que escrevem, e mais merecedores de
reconhecimento e respeito são todos aqueles e aquelas que leem pelo simples
prazer da viagem e da cultura; nunca teremos certeza se o fazem por dom ou se por
tortuoso esforço, ou se ainda foi um hábito apresentado na infância e
incentivado, sem traumas, pelos pais. Ou, se por iniciativa do próprio indivíduo....
volta
sobe
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